A locomotiva de mais de 80 anos não foi o principal presente dado a Blumenau pela Tex Cotton, empresa que hoje está no prédio erguido pela finada Sulfabril, na Rua Itajaí. Não estou aqui menosprezando a nova atração turística de Blumenau. O veículo é belíssimo, curioso e vai atrair a atenção mesmo não tendo qualquer relação com a nossa cidade.
Mais importante do que termos uma nova locomotiva para chamar de nossa é o resgate da história e a valorização do pouco que resta da estrada de ferro que cruzou a cidade e a região até 1971. Aquele elevado no pátio da empresa, onde será colocada a locomotiva daqui a alguns dias, era parte importante da ferrovia e ainda tem cravado nele os trilhos e dormentes que guiavam o comboio de ferro. Estão ali desde que tinham serventia e, em vez de aproveitarmos melhor tudo isso, que sempre esteve na nossa cara, optamos por nos impressionar com pedaços de trilhos retorcidos encontrados debaixo da terra durante obras na cidade.
Muito pouco se fez até então para preservar e expor imóveis, equipamentos e documentos relacionados à ferrovia que teve importância vital para Blumenau. Afinal, era pelo trem que chegavam e partiam cargas e pessoas que mantinham a roda da economia girando. A ponte de Ferro, a ponte dos Arcos e o Campus 2 da Furb, por exemplo, poderiam contar bem alguns capítulos dessa história, mas mesmo quem passa por esses pontos, na maioria das vezes, não se dá conta ou nem sabe que por ali circulava um trem.
Por décadas ignoramos, solenemente, o que a estrada de ferro fez por nós. O que a iniciativa privada faz agora, com a nova locomotiva, é jogar na nossa cara o potencial que temos para explorar melhor o tema, seja nas aulas de história, na necessária visita ao passado para melhor trilharmos o futuro ou para aproveitar turisticamente, e com material rico e original, todo esse acervo que certamente está espalhado por aí.
É a deixa para, de uma vez por todas, resgatarmos a nossa ferrovia e devolver a ela, mesmo inativa, a importância que ela teve no passado, seja em um novo museu ou mesmo em um roteiro autoguiado que ainda não existe. Uma vez mais a bola está quicando. Resta saber se alguém vai chutar ao gol.
A locomotiva
A nova locomotiva revelada nesta segunda-feira pela Tex Cotton foi fabricada em 1940 nos Estados Unidos. Veio de Pindamonhangaba (SP), onde prestou importantes serviços em décadas passadas. Depois foi abandonada e posteriormente restaurada.
O diretor da Tex Cotton, Sérgio Ferrari, conta que desde que ele adquiriu o imóvel da Rua Itajaí pensava em comprar uma locomotiva para colocá-la sobre os trilhos do elevado. Tentou em Tubarão, mas o veículo da cidade do Sul catarinense tinha relação com o poder público e a burocracia emperrou o negócio.
Depois ele pediu a cotação de uma réplica para profissionais que atendem o Parque Beto Carrero World, mas o preço era alto demais. Sérgio já havia desistido da ideia quando alguém de Pindamonhangaba soube da vontade dele e ofereceu a locomotiva recém restaurada.
Depois de revelado na manhã desta segunda-feira, o belo veículo ficará exposto para visitação do público. Em uma ou duas semanas um guincho vai içar as 26 toneladas até os trilhos do elevado.
Vai ganhar local de destaque em praça que está sendo finalizada e será aberta ao público. O espaço deve ser totalmente concluído no segundo semestre com a instalação de um parquinho para as crianças.
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Sobre o Pancho
Sou jornalista formado pela Universidade do Vale Itajaí (Univali) e atuo como profissional desde 1999. Fui repórter...
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Parabéns pela certeira contundência do teu texto, Pancho, melhor impossível e concordo plenamente. O que vão fazer com a macuca é transforma-la mais em peça de decoração do que peça histórica que deveria estar posicionada sobre trilhos no exato local em que frafegou, de preferência apontando para o interior, para onde levou o progresso do vale a partir de 1909.
Olá, Bacca! Entendo o teu desejo em relação à Macuca, mas a solução encontrada para ela, na futura Praça da Estação, ainda é mais nobre do que o lugar que ela ocupa hoje em frente à prefeitura, onde está em péssimo estado de conservação. E torço para que ela não se torne apenas decoração. De certa forma, a locomotiva estará mais visível, integrada a um espaço que, se tudo der certo, será mais um ponto de convivência e integração não só para o turista, mas também para o blumenauense, como tem ocorrido com a Praça Dr. Blumenau. Grande abraço! 🙂
Olá Pancho, bem sabes como gosto do tema. Adorei o texto, e o alerta. É uma pena que o modelo não seja de uma das 25 que por aqui rodaram. Acho que ainda exista uma similar nesse vasto Brasil.! É uma pena que provavelmente se tornará estática, o que desmerece a restauração feita. Mas aplaudo a ideia. O proprietário poderia ter derrubado o resto do viaduto e construído um prédio novo no local, garanto que seria até mais aplaudido. Então vamos comemorar a iniciativa. É uma semente. Abraços.