Blumenau perdeu nesta quarta-feira parte de um dos mais importantes patrimônios culturais e históricos da cidade. A aprovação da construção de uma loja da Havan no Centro Histórico pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural Edificado (Cope) acaba com qualquer possibilidade de recuperar aquele espaço como merecia uma cidade que valoriza a própria história e pensa no desenvolvimento turístico.
Até então, o poder público poderia, até mesmo com a contribuição da iniciativa privada, transformar aquela área de extrema importância para a memória da cidade em algo de fato relevante. Seriam beneficiados tanto os blumenauenses, que a cada dia perdem a referência do passado e da origem da cidade, quanto os turistas que buscam atrativos originais, históricos e culturais.
A cidade que cada vez mais se apresenta como turística perde a oportunidade de resgatar o que ela ainda tinha de original. Sem um Centro Histórico digno seremos cada vez mais conhecidos pela Oktoberfest e pelos desastres naturais. É uma opção. Não necessariamente a melhor.
Sobre a deliberação
A votação ocorreu na tarde desta quarta-feira numa reunião acalorada, recheada de fatos novos em relação à primeira discussão que ocorreu em maio. Naquela ocasião, boa parte dos conselheiros se mostraram contra a proposta. Não pelo fato de ser a Havan ou de ser uma loja. A crítica era justamente em relação à falta de harmonia do projeto arquitetônico com o Centro Histórico. Naquela ocasião, acatando sugestão do presidente do Cope e secretário municipal de Planejamento Urbano, Éder Boron, a Havan retirou o projeto antes da votação e assumiu o compromisso de retornar com outra proposta.
O fato é que nenhuma nova proposta foi apresentada aos conselheiros. A defesa do grupo varejista nesta quarta-feira se resumiu a um discurso do ex-prefeito Félix Theiss, conselheiro da Havan, que enumerou uma série de argumentos que, na opinião dele, justificariam a instalação da loja naquele local. Fora isso, apenas algumas imagens do projeto foram exibidas, sem o detalhamento necessário para uma discussão aprofundada.
Descontentes com o fato de não haver um novo projeto, os representantes do Instituto Histórico de Blumenau (IHB) e do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), renunciaram às cadeiras que ocupavam no Conselho Municipal do Patrimônio Cultural Edificado (Cope). No final, 12 conselheiros aprovaram a proposta e três votaram pela rejeição.
Entre os 12 que votaram pela continuidade do projeto estavam todos os que representam a prefeitura, incluindo o secretário municipal de Cultura, Sylvio Zimmermann, que até então sempre se mostrou defensor da história e das raízes de Blumenau. Também estão conselheiros que mudaram de opinião, mesmo sem a apresentação de uma nova proposta, o que reforça a possibilidade de um grande trabalho de bastidor por parte da rede varejista e da prefeitura para obter votos favoráveis, como escreveu o colega Evandro de Assis, da NSC.
Ministério Público
Outro fato novo foi a presença e a participação do Ministério Público Federal. A procuradora da República Rafaella Alberici trabalha na área de meio ambiente, que inclui discussões sobre o patrimônio histórico.
Às mais de 100 pessoas que acompanharam a reunião, ela disse que iniciou um procedimento para apurar os fatos envolvendo o trâmite do projeto, principalmente por haver no entorno do terreno que deve abrigar a loja dois imóveis tombados pela União.A procuradora da República também se colocou à disposição para conversar com pessoas que podem contribuir com o trabalho.
Vale lembrar que tanto o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) quanto a Fundação Catarinense de Cultura (FCC) não colocaram obstáculos à construção da loja com base na interferência que ela vai provocar nos imóveis tombados por esses órgãos. Apenas impediram a construção da estátua da liberdade.
Outra observação importante é que o Cope analisa o impacto dos novos empreendimentos no patrimônio histórico e cultural da cidade. Um estudo de tráfego será analisado pela equipe técnica da prefeitura e depois o projeto segue o trâmite normal até a emissão do alvará de construção.
15 Comments
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Sobre o Pancho
Sou jornalista formado pela Universidade do Vale Itajaí (Univali) e atuo como profissional desde 1999. Fui repórter...
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Vergonhoso, pra ser econômico nos comentários.
Amigo, já está um congestionamento monstro naquelas proximidades, com mais um mini shopping, vai trancar tudo.
Triste fim para essa área, uma solução errada para um problema que nunca foi levado a sério
Você vive onde, Pancho? Blumenau turística? No lugar de noticiar você fica dando palpites, torcendo e lamentando!!! Lamentável!
Lamentável a passividade do Blumenauense empreendedor. Cidade perdendo sua identidade.
Enfiar uma loja de departamentos em uma área muito afetada por congestionamentos é no mínimo insano.
Só rindo da cara desses imbecís.
No mínimo levaram uns bons “trocados”!
Isso sem comentar esse prefeitozinho.
Blumenau merece naquele espaço, construir uma Pinacoteca que faria parte do Centro Histórico de Blumenau.
Tem empresário em Blumenau , que estaria disposto a concretizar esta ideia.
Só falta aval da Prefeitura.
[…] 28/07/2021 4 min de leitura […]
Que triste! A Havan poderia propor um projeto em harmonia com esta região. E muitos desses personagens ainda dizem: “Blumenau, cidade turística”.
Exato. O problema não é a Havan. O problema é a falta de sintonia!
Um verdadeiro absurdo. Deve-se questionar porque os envolvidos mudaram de ideias. Muito estranho,
Paredes pixadas, suja. Casarões caindo aos pedaços! Os turistas adoram ver isso!
Como seria uma loja se adaptando a este estilo arquitetônico! como seria…
Nada mais adequado ao blumenauense padrão e sua cidade do que essa monstruosidade no centro histórico. Tem todo meu apoio.
A incapacidade de visão do poder público leva a isso ai mesmo uma área nobre para a história de Blumenau é região abandonada trazendo sérios problemas de segurança aos que ali habitam acaba por achar solução através da iniciativa privada, pelo menos deveria ser um projeto arquitetônico de acordo e condizente com a história de Blumenau e sua colonização
Estou de acordo com o comentário de Xandão.
O problema é a inépcia e a falta de capacidade do poder público. Faltou iniciativa, garra e planejamento para recuperar aquela região e torná-la atrativa ao blumenauense e aos turistas. É realmente lamentável.